Vila de Ameijoas
Produto nobre do mar, as amêijoas são desde há muito indissociáveis da actividade humana nas orlas costeiras.
A Ria Formosa, zona alagada pelas marés que estende por sessenta quilómetros da costa algarvia, é um bom exemplo. Por toda a Ria, os bivalves, fáceis de capturar e de simples confecção, foram e são amplamente consumidos e comercializados.
Na Ria apanhava-se berbigão, cadelinhas, lingueirão e amêijoas de várias qualidades.
As mais apreciadas reservavam-se para momentos especiais.
Foi neste contexto que surgiram as vilas de amêijoas.
Utilizando a amêijoa-boa, este era o prato das celebrações pascais em Olhão, onde as vilas eram confeccionadas popularmente nas açoteias, servindo de pretexto para a reunião familiar e para disputas entre as casas pela melhor vila, as mais saborosas amêijoas e o melhor vinho.
Os mais ricos, que também as apreciavam, preferiam o recato de passeios de caleche até às matas interiores, onde preparavam as suas “vilas”. Na Fuzeta, as vilas estavam associadas à ida dos pescadores para as longas e perigosas campanhas do bacalhau. Antes da partida, rumavam em direcção à Igreja do Livramento para pedirem protecção e boa sorte. Depois da missa, homens, mulheres e crianças, festejavam com amêijoas, cozinhadas numa vila montada ali mesmo, no adro da capela.
As vilas de amêijoas constituem-se como símbolos de vilas de homens que, reunidos à sua volta, celebram e invocam os favores dos deuses, reconhecendo-se como comunidade na partilha dos alimentos que o mar e a terra propiciam.
Assim surgiu a famosa “vila de amêijoas”, prato típico da semana da Páscoa em Olhão mas também muito habitual em piqueniques que os olhanenses em tempos faziam nos Pinheiros de Marim.
E como se cozinham exatamente? Eu penso que sei, não sendo de cá. Mas a maioria dos portuguesas não deve saber e fica sem saber na mesma.