O Sporting Clube Olhanense chega ao centenário na principal liga do futebol luso. E com o orgulho de ter os ordenados em dia.
Com a queda do Farense em 2002 e passado um interregno de sete anos, o Olhanense devolveu ao Algarve a emoção do futebol da Primeira Liga, onde ainda se mantém. “Quando subimos à Liga de Honra [2003/04] jogámos com o nosso rival de sempre, o Farense, em casa deles. Fizemos uma romaria, a pé, de Olhão a Faro, de cerca de 500 pessoas. Demorámos mais de uma hora a lá chegar”, recorda ‘Betinho’, que lembra ainda a festa da última subida de divisão, em 2008/09, o seu ponto alto enquanto adepto: “Até modificámos uma carrinha para festejar. Foi uma noite memorável.”
O Olhanense, apesar de ter passado grande parte dos seus 100 anos (feitos no dia 27 de Abril) em divisões inferiores, tem uma sala de troféus de fazer inveja a muitos clubes. Do espólio, os destaques vão para a taça de Campeão de Portugal, ganha ao FC Porto em 1923/24, os três títulos de campeão da 2ª Liga (1935/36, 1940/41 e 2008/09) e ainda uma presença na final da Taça de Portugal em 1944/45, em foi derrotado pelo Sporting.
“Claro que gosto de ver o Olhanense na Primeira Liga, mas às vezes tenho saudades dos jogos na II Divisão e da Honra. Havia uma união muito forte entre as pessoas”, lembra ‘Betinho’, um conhecido adepto do Olhanense que actualmente explora o bar da Associação 18 de Maio, local característico onde se juntam, todas as semanas, dezenas de adeptos do clube rubro-negro.
CIDADE DE PESCADORES
O Olhanense é de Olhão e Olhão é do seu clube, o Olhanense. Tem sido assim desde o início e não há sinais de mudança. A terra está intrinsecamente ligada ao clube. Cidade de pescadores, não são poucos os ex-jogadores que têm hoje uma banca no mercado municipal.
Inácio Martins, 53 anos, dos Mariscos Inácio, é exemplo desta relação. Foi jogador em Olhão e, ainda júnior, fez parte do plantel que subiu à Primeira Liga pela penúltima vez, na década de 70. O avançado deu tanto nas vistas que ainda nem tinha 18 anos e já estava a prestar provas no Sporting.
“Tive uma lesão no joelho que me afectou a carreira. Cheguei a ser operado pelos médicos do Sporting, mas deixei de jogar muito cedo e tive de tomar conta do negócio de família”, conta Inácio Martins, que chegou a partilhar o campo de treinos com o mítico guarda-redes Vítor Damas.
“É uma terra muito ligada ao mar e naquela altura a maioria dos jogadores era daqui da zona, por isso, quando acabavam de jogar futebol, era natural que retomassem os negócios de família, que neste caso é o comércio do peixe”, realça.
O peixe é o denominador comum entre o clube e a terra. ‘Timofte’, 41 anos, sócio do Olhanense há vinte e adepto desde menino, lembra a amizade que ainda hoje mantém com o treinador Jorge Costa, que ajudou o Olhanense a subir à I Divisão em 2009. Esta amizade, já com 34 anos, cresceu à conta da boa mesa algarvia: “Era eu que lhe arranjava o peixe. Telefonava-lhe, perguntava o que queria e depois entregava-lhe”, afirma o comerciante, ferrenho coleccionador de camisolas de jogadores – com um espólio de quase 70 – todas pedidas depois dos jogos no Estádio José Arcanjo. Semelhante oferta até já foi feita pelo novo técnico, Sérgio Conceição. ‘Timofte’ (alcunha que vem da admiração pelo antigo craque romeno do FC Porto e Boavista) conta que se emocionou logo no primeiro contacto com o ex-internacional português.
“A primeira vez que falei com ele, perguntou-me: ‘Tu é que és o ‘Timofte’, não és?’ Ele sabia quem eu era porque o Jorge Costa tinha falado de mim. Fiquei emocionado. É sinal de que não se esqueceu de mim.”
Eterno capitão do Olhanense, Henrique Reina jogou durante 22 anos no Olhanense, de 1954 a 1976. Era defesa central e primava por ser um jogador correcto. Chegou a receber uma condecoração da Federação Portuguesa de Futebol por ter feito quase 500 jogos sem qualquer castigo. Em Olhão conheceu o sabor de três divisões e teve três subidas, duas das quais para a Primeira Liga.
“Foram momentos memoráveis e tenho muitas saudades”, recorda Reina, de 74 anos. O antigo defesa conta que nos cinco anos que esteve na Primeira Liga o Olhanense jogava taco-a-taco com as restantes equipas, apesar de a equipa ser muito jovem.
“Lembro-me de ter feito vários jogos contra o Eusébio, mas eu não o marcava em cima como os restantes defesas. Dava-lhe espaço, marcava-o à zona, e às vezes corria bem.” Sobre os tempos que passou como jogador, só reclama de ter recebido pouco.
“Quando acabei de jogar [aos 40 anos] ganhava seis contos por mês [30 euros], enquanto outros jogadores que jogavam no Olhanense chegavam a ganhar 20 contos [100 euros].”
Pior esteve Manuel João Poeira, de 76 anos, que lembra que quando começou a jogar prometeram-lhe 400 escudos [dois euros] de ordenado, quantia que nunca viu .
“Naquela altura eram tempos diferentes e jogávamos por amor à camisola, por isso não me chateava não receber”, lembra Poeira.
O médio (que mais tarde se tornou árbitro) jogou em Olhão durante cinco anos; lembra que o ponto mais alto da sua carreira de futebolista foi quando participou na primeira selecção de juniores portuguesa que jogou um Mundial – na Alemanha, na década de 50.
“Jogava pelo Olhanense e chamaram-me. Nunca tinha pisado um relvado na minha vida porque em Olhão jogávamos no Estádio Padinha, cujo campo era de terra batida. Empatámos dois jogos, perdemos outros dois. Lembro-me que, na final, a Alemanha ganhou à Espanha.”
Manuel João Poeira recorda ainda os tempos de liceu [Escola Industrial e Comercial de Faro, a actual Escola Secundária Tomás Cabreira], onde foi colega de um adepto do Olhanense ‘especial’.
“Andei na mesma turma que o Presidente da República Aníbal Cavaco Silva, que é sócio honorário do Olhanense. Ele não jogava muito à bola, era mais atletismo, mas às vezes fazíamos jogos na escola, de benfiquistas contra sportinguistas. Ele jogava sempre pelo Benfica.”
O PROBLEMA DAS QUOTAS
O Sporting Clube Olhanense vive uma relativa estabilidade, tendo em conta a crise do futebol português.
A 23 de Abril, a vitória perante a Académica por 1-0 garantiu a manutenção na Primeira Liga, pelo terceiro ano seguido depois da última subida. Com um orçamento a rondar os dois milhões de euros, um dos mais baixos da Liga Portuguesa de Futebol Profissional, o clube orgulha-se de cumprir com os ordenados dos atletas. Mas nem tudo são rosas: “Vivemos numa cidade pequena e num dos extremos do País. A maioria dos clubes está mais perto dos grandes centros urbanos e isso faz toda a diferença”, queixa-se Isidoro Sousa, presidente do Olhanense a cumprir o terceiro mandato e um dos grandes obreiros da subida à I Divisão.
“Temos algumas dificuldades em arranjar apoios e receitas. Tem sido complicado, sobretudo agora, devido ao estado da economia do País”, explica o dirigente.
As obras de remodelação do Estádio José Arcanjo fizeram aumentar o passivo do clube para cerca de 2,5 milhões de euros. Uma obra “extremamente necessária” para um clube que furou o caminho para a primeira linha do futebol nacional.
“Esperemos que em dois ou três anos o clube esteja numa situação estável, mas até lá temos muito trabalho pela frente. Felizmente o Olhanense tem património, o que é uma mais-valia. Sempre tivemos como prioridade a preservação do património do clube”, afirma Isidoro Sousa.
Apesar de o Olhanense ter uma massa associativa apaixonada e muito ligada ao clube, as dificuldades económicas das famílias afectam já as receitas da tesouraria. Numa cidade que, à semelhança do resto do País, não prospera a nível económico, o presidente reconhece as “grandes dificuldade” dos sócios e assume que cerca de 50 por cento dos cerca de cinco mil associados tem as quotas em atraso.
As boas campanhas que a equipa tem feito, tanto no ano passado como este ano, têm feito os adeptos sonharem com uma ida à Liga Europa. Um sonho que faz sorrir Isidoro Sousa: “Neste momento não há essa possibilidade. É uma ‘aventura’ que acarreta muitas despesas. Mas, se tivermos os apoios suficientes no futuro, não descuramos essa opção.”
O ‘sonho’ de levar o Olhanense à Primeira Liga foi alcançado com Jorge Costa, um treinador jovem, aposta que se mantém com Sérgio Conceição, que assumiu em Olhão um grande desafio: “No futuro, vejo-o a treinar um grande clube português ou estrangeiro”, prevê o presidente.
“Quando acabei de jogar [aos 40 anos] ganhava seis contos por mês [30 euros], enquanto outros jogadores que jogavam no Olhanense chegavam a ganhar 20 contos [100 euros].”
Pior esteve Manuel João Poeira, de 76 anos, que lembra que quando começou a jogar prometeram-lhe 400 escudos [dois euros] de ordenado, quantia que nunca viu.
“Naquela altura eram tempos diferentes e jogávamos por amor à camisola, por isso não me chateava não receber”, lembra Poeira.
O médio (que mais tarde se tornou árbitro) jogou em Olhão durante cinco anos; lembra que o ponto mais alto da sua carreira de futebolista foi quando participou na primeira selecção de juniores portuguesa que jogou um Mundial – na Alemanha, na década de 50.
“Jogava pelo Olhanense e chamaram-me. Nunca tinha pisado um relvado na minha vida porque em Olhão jogávamos no Estádio Padinha, cujo campo era de terra batida. Empatámos dois jogos, perdemos outros dois. Lembro-me que, na final, a Alemanha ganhou à Espanha.”
Manuel João Poeira recorda ainda os tempos de liceu [Escola Industrial e Comercial de Faro, a actual Escola Secundária Tomás Cabreira], onde foi colega de um adepto do Olhanense ‘especial’.
“Andei na mesma turma que o Presidente da República Aníbal Cavaco Silva, que é sócio honorário do Olhanense. Ele não jogava muito à bola, era mais atletismo, mas às vezes fazíamos jogos na escola, de benfiquistas contra sportinguistas. Ele jogava sempre pelo Benfica.”
O PROBLEMA DAS QUOTAS
O Sporting Clube Olhanense vive uma relativa estabilidade, tendo em conta a crise do futebol português.
A 23 de Abril, a vitória perante a Académica por 1-0 garantiu a manutenção na Primeira Liga, pelo terceiro ano seguido depois da última subida. Com um orçamento a rondar os dois milhões de euros, um dos mais baixos da Liga Portuguesa de Futebol Profissional, o clube orgulha-se de cumprir com os ordenados dos atletas. Mas nem tudo são rosas: “Vivemos numa cidade pequena e num dos extremos do País. A maioria dos clubes está mais perto dos grandes centros urbanos e isso faz toda a diferença”, queixa-se Isidoro Sousa, presidente do Olhanense a cumprir o terceiro mandato e um dos grandes obreiros da subida à I Divisão.
“Temos algumas dificuldades em arranjar apoios e receitas. Tem sido complicado, sobretudo agora, devido ao estado da economia do País”, explica o dirigente.
As obras de remodelação do Estádio José Arcanjo fizeram aumentar o passivo do clube para cerca de 2,5 milhões de euros. Uma obra “extremamente necessária” para um clube que furou o caminho para a primeira linha do futebol nacional.
“Esperemos que em dois ou três anos o clube esteja numa situação estável, mas até lá temos muito trabalho pela frente. Felizmente o Olhanense tem património, o que é uma mais-valia. Sempre tivemos como prioridade a preservação do património do clube”, afirma Isidoro Sousa.
Apesar de o Olhanense ter uma massa associativa apaixonada e muito ligada ao clube, as dificuldades económicas das famílias afectam já as receitas da tesouraria. Numa cidade que, à semelhança do resto do País, não prospera a nível económico, o presidente reconhece as “grandes dificuldade” dos sócios e assume que cerca de 50 por cento dos cerca de cinco mil associados tem as quotas em atraso.
As boas campanhas que a equipa tem feito, tanto no ano passado como este ano, têm feito os adeptos sonharem com uma ida à Liga Europa. Um sonho que faz sorrir Isidoro Sousa: “Neste momento não há essa possibilidade. É uma ‘aventura’ que acarreta muitas despesas. Mas, se tivermos os apoios suficientes no futuro, não descuramos essa opção.”
O ‘sonho’ de levar o Olhanense à Primeira Liga foi alcançado com Jorge Costa, um treinador jovem, aposta que se mantém com Sérgio Conceição, que assumiu em Olhão um grande desafio: “No futuro, vejo-o a treinar um grande clube português ou estrangeiro”, prevê o presidente.
Por:Tiago Griff
In http://www.cmjornal.xl.pt